data-filename="retriever" style="width: 100%;">Aos 81 anos, sinto medo de me repetir. Mas se escrevo a respeito da minha terra, da minha Santa Maria, não me preocupo. Lembro-me, sem parar, do meu passado de alegria e felicidade!
Caminhávamos pela primeira quadra, o primeiro quarteirão da doutor Bozano. A rua que desemboca na praça, onde, em noites não tão frias, as moças passeavam em um sentido, os rapazes pelo lado oposto, como que compondo um carrossel. Em Santa Maria, minha terra!
Eu a deixei ainda menino. Mas voltávamos sempre, no mínimo uma vez por ano. E sempre que ia a Santa Maria, com o pai e a mãe, eu me sentia retornando ao começo.
Certo dia, no início dos anos 50, caminhávamos pela primeira quadra. Meu pai encontrava velhos amigos e, apontando-me, dizia: "este é o Eros Roberto, meu filho". Sorríamos e o guri que eu era sentia-se firme no mundo.
Santa Maria que deixei tão cedo. Por isso, mesmo com muita vontade de voltar. Vontade de recuperar imagens, vozes, gestos. Coisas da década dos quarenta, meu avô Justino descascando-me laranjas e fazendo, nos seus ventres aloirados, pocinhos bem marcados.
O tempo vai passando e, nesse ir-se indo, leva pessoas, sopra memórias. Guardo-as cuidadosamente, de modo que, se hoje passeasse pela primeira quadra, lá as encontraria. Seria tão bom como se, em meu tempo, de menino eu caminhasse agora por ali, encontrasse amigos do pai, olhasse as moças na praça.
De quando em quando vêm notícias da minha terra. Falo ao telefone com meus amigos, prometo de repente aparecer. Vamos logo nos ver - garantimo-nos uns aos outros.
Assim, flui o tempo, a areia escorrendo docemente na ampulheta até que meu sonho de menino possa vir a ser bruscamente interrompido. Andamos pelo mundo, meu pai querido, Werner Grau, e minha mãe, Dalva Couto Grau. Alguns anos em Mato Grosso e em Natal, a partir de 1950 em São Paulo. Depois que eles se foram para o Céu, Tania e eu pelo mundo afora, França, Alemanha, Áustria! E, mais e mais, agora Tiradentes, por conta das pandemias que suportamos... Tocamos as mãos de nossos amigos para sempre, a relembrarmos o passado de nossos pais, o Rudy, pai da Tania, meu sogro e amigo de verdade - também já lá Céu! - sorrindo para nós!
A mais bela realidade encontra-se seguramente na minha Santa Maria da Boca do Monte, onde tudo que planta cresce e o que mais floresce é o amor! O guri em mim envelhece e as lágrimas em meus olhos vêm a eles quando enlaço ternuras da minha cidade. Como se eu a abraçasse, trazendo-a para mais perto da Tania e de mim, e nos uníssemos para sempre.